quarta-feira, abril 05, 2006

Waiting to exhale (posta existencialista)

Fechou os olhos e respirou fundo. Aconselhou-se a ter calma. Poderia estar a andar a passos largos na direcção certa, mas agarrou a certeza de que ainda não tinha chegado o momento. Sabia que o excesso de euforia lhe precipitava sempre a queda.

Começava a aceitar o que era. Na sua essência, tudo o que lhe importava era conquistado a pulso e na sombra, com vidas de trabalho interior. Nada do que fizesse para fora poderia ter qualquer espécie de importância se não fosse um reflexo. Já tinha tentado muitas e muitas vezes esquecer-se, ignorar o universo que tinha dentro, mas acabava consigo a ouvir-se falar e a ver-se fazer sem se reconhecer. Ao fim do dia, se se afastasse demasiado, era sugada de novo, em turbilhão, para o seu próprio buraco negro. Toda a vida tinha tentado abafar a vida que havia em si, sem qualquer sucesso.

Tarde, mas não tarde de mais, se apercebeu de que só conseguiria viver sendo ela própria, por inteiro. Que as fachadas, os papéis interpretados, as palavras roubadas ou os outros eus decalcados, a mais ténue mentira a arrastavam inexoravelmente para longe de si, do seu sentir e, às vezes quase que podia jurar, do seu corpo. Lentamente, a percepção estava a tornar-se em certeza. Devagarinho, ía conseguindo começar a viver no agora e no aqui, largando os mundos fechados de vazio. Finalmente, olhava as suas prisões de frente, sem medo. Mais ninguém as via, eram só suas, mas finalmente entendia que não precisava de se envergonhar delas. Eram suas. Eram a sua luta pessoal e instransmissível. Mas já não a esmagavam; tinham-se transformado em obstáculos ultrapassáveis.

Tinha-lhe sido concedida uma segunda adolescência e, desta vez, não se iria deixar comer por ela.

Por isso, respirou fundo. Pegou no seu melhor sorriso, lembrando-se do seu direito inato ao perdão, tão válido como o de qualquer outra pessoa à face da terra. Finalmente, conseguia ver que a felicidade não era só para os outros.

1 comentário:

Isa disse...

acho bem, seres tu por inteiro. no limite, no fim da história é sempre ctg que tens de lidar. dormir de consciencia tranquila é só o que se quer, digo eu. bjs