terça-feira, outubro 18, 2005

Aparentemente, o maior post até agora

Há coisas que me assustam, porque não as quero comigo, mas, sobretudo, porque não consigo entendê-las. Uma delas é a falta de sanidade mental.

Não falo da saudável "pancada", que me parece que toda a gente tem, em maior ou menor grau, e que muito prezo. Acho até que, sem ela, é mesmo impossível manter a dita sanidade. Também não falo dos pequenos desequilíbrios que todos também temos e que faz com que o conceito de normalidade seja só um conceito.

Estou a pensar mesmo em total alheamento da realidade.

Hoje de manhã, na rua, comecei a ouvir uns urros que, por não ser a primeira vez que os escutei, já se me tornaram familiares, mas que não deixam de me causar sempre um certo calafrio.

Instintivamente, virei os olhos para o som, apesar de já saber quem o produzia. No sopé da rua, avistei aquela mulher com que às vezes me cruzo. Deve estar nos 50 e tal. Leva sempre as duas mãos carregadas de sacos, anda a passo acelerado, de olhos postos no chão e vai vociferando sozinha, aparentemente com alguma coisa ou alguém que só existe na sua cabeça. Vai carregada de raiva e completamente absorta, longe de tudo, como se estivesse dentro de uma esfera invisível.

Dou comigo a pensar em que lhe poderá ter acontecido para que tenha chegado ali. Se será assim tão diferente de qualquer coisa que possa acontecer a qualquer pessoa que eu conheça. Assusta-me não poder sequer vislumbrar o que lhe vai na alma.

De vez em quando acho que me pode acontecer a mim - ficar assim longe. Dos maiores sustos que apanhei na vida (igualável àqueles sustos de "ai que não me safo!", que acontecem num carro que capota a alta velocidade) foi quando um dia saí de casa, para ir para o trabalho, e vi um rinoceronte. Imediatamente, pensei "Pronto! Aconteceu! Passei-me e já não volto!". Senti o coração cair até ao estômago.

Como é óbvio, tive medo de perguntar a outro transeunte se também estava a ver um rinoceronte e fui andando devagarinho, a olhar sempre para o animal.

Foi com um grande alívio que comecei a ver que perto do rinoceronte estava um hipopótamo e, mais à frente, uma girafa. Era tudo uma campanha publicitária do Zoo de Lisboa. Eram só uns senhores com um trabalho mais estranho, enfiados aos pares dentro de uns disfarces grandes. Respirei fundo. "Ainda não foi desta!"

9 comentários:

Isa disse...

acho que enqto te preocupares com isso n te passas. pelo menos mantens-te atenta aos sinais.

Oumun disse...

Estavas a ir tão bem no principio!!! e tinha de aparecer o rinoceronte!!!


;)bjos

Mipo disse...

é o que me acontece, Oumun... descambo! Estás a ver a minha preocupação? :-)

cinderela disse...

E aquele sr. que costuma(va) estar entre o saldanha e picoas, a dizer adeus a todos os que passam?
:-)
Não te preocupes, a qualquer sinal preocupante a mala avisa-te!!

cinderela disse...

não é a mala, é a malta! ;-)
(porque se a mala te avisar, é sinal de preocupação!!!)

Mipo disse...

quer dizer que conversar com a mala já é mau sinal?... Ó meu Deus!

Osga Esparramada disse...

A CENSURA AINDA EXISTE!!!
Mas volto a repetir parte da questão:
A senhora em causa que grita, chama-se Maria!
Mas não é a única doida da zona: existem uns tantos mais...
Um que faz contas, com papel e lápis, numa esquina (esse é o seu dia-a-dia); outro canta pelas ruas paralelas e perpendiculares; outro ainda vem direito a nós falando baixinho e de repente "ZUMP!"...dá-nos um safanão; outro urra, urra, urra em passo acelerado...
Estes são os conhecidos da OSGA, mas calculo que ainda haja muitos mais!!!

bonifaceo disse...

Quando fui aí a Lisboa, à noite, não me lembro se no Chiado ou Bairro Alto passei por uma mulher a falar sozinha, mas não era aos berros e acho que já era velhota. Em Aveiro o mais conhecido "tolo", coitado, não fala sozinho, gosta mais de pensar que é sinaleiro, tem um apito e um bloco e está nuns semáforos e vai aos vidros pedir esmola e quem não dá ele começa a dizer que leva multa e farta-se de lá apitar...

Osga Esparramada disse...

Pois é, Bonifaceo, ao menos esse é engraçado.
Cá a Osga tem má experiência dos doidos de Lx:
Certo dia, cruzou-se comigo uma mulher numa avenida larga da nossa capital e... "Chlap", levei uma bofetada na cara!
Confesso que fiquei estupefacta, sem reacção!

"São os loucos de Lisboa
Que nos fazem duvidar
Que a terra gira ao contrário
Que os rios nascem no mar..."