segunda-feira, dezembro 19, 2005

(in)existencialismos

Habituara-se a viver com um prenúncio de morte, como se tudo tivesse nascido apenas para acabar. Evitava explicar a quem quer que fosse essa sombra que a precedia em todos os minutos, porque não via qualquer utilidade em fazê-lo. Frequentemente, tudo lhe parecia absurdo, mentiroso e inútil.

Era por isso que tinha tantos momentos eufóricos. Tantas alturas em que a sua cabeça, cansada do constante peso, precisava de um intervalo, ou em que, depois de cair no fundo do poço, se surpreendia, de repente, sem porquê, com a vida que vibra em todo o lado. Parecia que acordava, de repente, mudava a postura, a atitude, a conversa e a expressão. Ganhava coragem para tudo e para todos. Num estalar de dedos, apercebia-se da quantidade de pequenos milagres constantes.

Não podia explicar que, exactamente por ver tudo sempre tão negro, conseguia sentir também tudo tão vivo. Desenvolvia uma hiper-sensibilidade para todas as pequenas coisas, até ao momento em que, inexplicavelmente, se esgotava e se emsimesmava outra vez.

Sem dar por isso, morria e renascia todos os dias.

3 comentários:

marta disse...

com mau feitio, certo?? ;)

Patioba disse...

Nem tenho nada para dizer! ;)

Mipo disse...

Easy, ora às vezes sim, outras vezes não (um bocado como os interruptores!)

Patioba, isso é bom ou mau? :-)