quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Bolsa de oxigénio

É 6.ª à noite: os ombros têm ordens expressas para baixarem à altura normal. Com um sorriso descontraído, pega no copo, enquanto goza a conversa. É a única altura da semana em que lhe é absolutamente impossível qualquer espécie de preocupação. Tem nos olhos uma doçura cansada e todos os sentimentos que durante os últimos cinco dias levou com rédea curta.

A única coisa que sabe é que, por aquela noite, os horários estão esquecidos. Não lhe interessa o que vai fazer no dia seguinte, nem as moinhas que normalmente a incomodam - o que lhe falta resolver e o que em geral lhe falta. Deixa-se rir e dizer tudo o que lhe passa pela cabeça, o bom, o mau e o assim-assim, sem o excesso de consciência que normalmente a acompanha. A noite pode desdobrar-se em mais conversa, ou em dança, ou em qualquer outra coisa; o importante é que dure.

Sabe que o dia seguinte vai amanhecer com a frieza discreta do tédio quotidiano. Mas agora nem se importa. É o seu momento de tréguas pessoais e gostava de ser sempre assim.

1 comentário:

Rui disse...

Respira fundo.