quinta-feira, agosto 24, 2006

Téunanéunanéu...

Nem todos os restaurantes indianos são iguais. Mas muitos partilham uma paixão por telediscos, importados da Índia aos magotes de DVDs e que provavelmente lhes ajudam a mitigar as saudades de casa (sim, porque os restaurantes também sentem saudades).

Jantar ao som e à imagem daqueles cantores indianos é uma das coisas estranhas que me dá um especial e refinado gozo, já que a refeição mais prosaica escorrega sempre na tentação de se ataviar com adornos surrealistas. Acabo sempre por regressar a casa a cantarolar "téunanéunanéu, nanéunanéu, nanéunanéunanananana", com a cabeça a balançar para a esquerda e para a direita, as palmas juntas à frente do peito e a imaginar-me num daqueles videos onde mulheres de cabelo preto até à cintura sorriem em pose e as camisas de homens com turbantes ostentam lapelas à anos 70 (isto sou eu; há pessoas que saiem de um restaurante indiano e vão para casa normalmente).

Há dias, o cenário da ida ao indiano tornou-se ainda mais intrigante. Não só a parafernália de telediscos foi extraordinária (desde o estilo dos referidos anos 70, à imitação de videos hip-hop, passando pelas recriações histórias, tudo ao som do "téunanéunanéu", para meu deleite), como jantei com cinco ucranianos, dois dos quais, radicados na Alemanha, possuem um repertório de palavras em português limitado a "faz favor: cobertor" (adquiridas na sequência de uma anterior viagem gelada a Portugal).

A intéprete ucraniana de serviço perdeu-se no desespero dos labirintos da tradução, repetindo-me em russo o que dizia o primo e drigindo-se a ele em português ("Mipo diz que melhor não comprar Casal Garcia como souvenir"). O empregado indiano gostou da nossa mesa e estendeu-se em explicações gastronómicas numa caldeirada de português, inglês e indiano que os ucranianos que vivem na Alemanha perceberam melhor do que eu (ficou a supervisionar-nos até deixarmos as cadeiras e não me consegui safar de comer aquela alpista de digestivo que sabe a anis, no fim do jantar).

Espiando os outros clientes do estabelecimento pelo canto do olho, detectei um grupo de indianos, dois de portugueses e um de orientais.

Passei a noite a sentir-me numa viagem do Kusturica filmada em Bollywood (só faltaram um par de ciganos e aquela senhora que cantava ópera enquanto arrancava pregos com o traseiro).

Espero ansiosamente pelo próximo filme.

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