quinta-feira, janeiro 12, 2006

Ocasiões e percepções

Normalmente, tendo a usar a expressão "sentido de oportunidade" para o termo timing, mas isso só se consegue quando o (ou a falta de) sentido de oportunidade pertence a alguém. Acontece que, muitas vezes, o chamado timing não pertence à responsabilidade de ninguém, mas apenas às circunstâncias.

São tantas as vezes que o timing cai na alçada das ocasiões que chega a ser irritante. Em relação ao trabalho é certinho: a maior parte de nós já passou por aquelas fases desconcertantes de procura, envio desenfreado de CVs e pedidos de "se souberes de alguma coisa", andando meses a roer as unhas e a rogar aos santinhos todos. É sabido que, assim que conseguimos emprego, logo aparecem algumas respostas, propostas e oportunidades que nos teriam dado um mundo de jeito apenas duas semanas antes.

Claro que, às vezes, o contrário também acontece; aquele telefonema que não conseguimos apanhar àquela hora daquele dia deixou-nos disponíveis para uma proposta bem mais interessante no dia seguinte - foi o que aconteceu comigo na EXPO 98 e ainda bem.

Passado uns anitos, a malta percebe como as coisas funcionam e acaba por se habituar. Pelo menos, a malta da minha geração, que tem um conceito de "emprego estável" ligeiramente diferente do que se tinha há algumas décadas.

Mas, no campo das oportunidades ganhas e perdidas, o timing continua a ser difícil de encaixar quando se trata de pessoas. Com mais ou menos ironia, toda a gente tem alguma história ou semi-história de desencontros e mal-entendidos que fecharam janelas.

Às vezes, só com alguma "sorte" nos apercebemos de ligeiras des-coincidências anos mais tarde, em conversas casuais, ou por portas travessas. Já passado muito tempo das subtis circunstâncias que nos poderiam ter redefinido, ouvimos ou dizemos "mas tinham-me dito que tu estavas...", "que estupidez! Se eu soubesse...", "eu percebi que tinhas dito...", ou um "só agora percebi" e o agora já vem tarde.

Chegam a haver relações de largos anos que, por casualidade cósmica ou não, são metralhadas com isto - sub-entendidos, entrelinhas e flagrantes faltas de timing. Quando um tem as antenas no ar, o outro está a olhar para o lado.

Resta pensar que, se nunca aconteceu, é porque não é suposto acontecer. E estar mais atento a futuros deslizes circunstanciais...

4 comentários:

pinky disse...

concordo contigo esses "desencontros" acontecem a todas as pessoas, mas se não aconteceram é porque não tinham que acontecer. bjkas bom fim de semana e melhoras (exprimenta a natação, faz muito bem e diminui as dores)

bonifaceo disse...

Esses desencontros provocados pelo timing são uma azia... fico danado.

Rui disse...

As circunstâncias têm circunstâncias que elas próprias desconhecem. Tentar perceber as minhas é dos exercicios mais dificeis a que me posso entregar.

André Parente disse...

Bolas... tiraste-me as palavras da boca!