sexta-feira, março 31, 2006

Conhecidos vs amigos (the long post)

Já sei, já sei. É um tema que já apareceu em muitos outros blogs e que de original não tem nada. Olha, azar. Cheira-me até que esta posta não vai ser muito interessante, mas, que se lixe!, está a apetecer-me escrever (em compensação, acho que vai ser longo).

Se calhar o tema aparece muitas vezes porque é importante. Para mim, pelo menos é. A amizade é, possivelmente, o tipo de relação a que dou mais importância. Porque, quando saudável, é a mais gratuita. Acho sempre que não se pode ter demasiados amigos, por isso, às vezes, tenho tendência para tentar açambarcá-los. Qualquer pessoa que conheço torna-se numa potencial vítima.

Daí que a dicotomia conhecidos/amigos seja para mim uma pedra no sapato. Estou bem entre amigos e entre desconhecidos. Os conhecidos fazem-me sempre confusão, exactamente porque as pessoas em causa não me conhecem e eu não as conheço a elas. Ou seja, sabemos o nome, conhecemos talvez o emprego, ou a família, um ou outro hobbie, uma outra relação comum, um/a ou outro (ex-) namorada/o, mas não as conhecemos.

Com conhecidos, principalmente conhecidos de longa data, temos de fazer conversa de circunstância, perguntar pela família ou sobre qualquer outro facto a que as convenções nos obriguem, sem isso nos interessar realmente. Não se pode fugir, porque, lá está, a gente conhece-o. E este país é o pesadelo dos conhecidofóbicos. Eles materializam-se por toda a parte e multiplicam-se ao longo dos anos.

É sabido que, se estou à vontade com alguém, é porque nunca vi essa pessoa mais gorda, ou porque a inseri na esfera da amizade, que tem um diâmetro bastante amplo.

Há amizades-embrião, amizades-cota, amizades-gaveta, amizades repescadas, amizades subterrâneas...

Existem amigos de copos, que só vemos à noite ou à mesa. Amigos profundos, com quem partilhamos as conversas mais intensas, mas que nunca levariamos para os copos. Tão importantes como estes, são aqueles com quem podemos passar horas sem nunca ter uma conversa profunda - com eles vive-se mais e analisa-se menos.

Qualquer uma destas relações pode cair na categoria amizade-alicerce. E o giro é que, por vezes, apercebemo-nos de que não são nada aquelas que esperariamos.

A amizade pode deixar-se acontecer ou ser trabalhada. Quando acontece é uma surpresa boa, porque flui e nos apanha desprevenidos. Quando é trabalhada, é porque não se pôs a questão de a deixar passar.

Mas a parte melhor é que é uma relação completamente livre. Não preciso de saber tudo da vida de alguém para a considerar amiga (posso até saber tudo da vida de alguém e não suportar ver essa pessoa à frente). Não lhe posso exigir aquilo que ela não quer dar, nem ela a mim. Só preciso de a respeitar e de a acolher. E não é lindo?

4 comentários:

marsalho disse...

Gosto particularmente da parte em que aceitas que uma boa amizade não tem que passar pela existência de conversas profundas. Demorei alguns anos a aceitá-lo.

bonifaceo disse...

E há os colegas, são um pouco mais que conhecidos, mas não propriamente amigos, por vezes gajos porreiros amigos dum amigo.
Foi um bom texto, acho que tens toda a razão quando dizes que há diferentes tipos de amigos.
Beijos.

Camélia disse...

Bolas que sou parecidíssima contigo!!! Credo "ca" impressão!!! Mas posso dizer-te que as minhas GRANDES amizades resumem-se ao teu último parágrafo. E se o espremer bem espremidinho, resume-se a uma pessoa. De resto encaixam-se nas várias definições que dás ao longo do teu post. Pronto. Um resto dum bom dia e um grande bem haja.

Ca sua licença ;)

Anónimo disse...

vasco lourinho, amigo de españa