terça-feira, março 21, 2006

Sobre a fúria

"Dave, there are two kinds of angry people - explosive and implosive. Explosive is the type of individual you see screaming at the cashier for not taking his coupon. Implosive is the cashier who remains quiet day after day and then finally shoots everyone in the store. You're the cashier."

Dr. Buddy Rydell (Jack Nicholson), em "Anger management"

Como é lógico, identifico-me com o caixa, não porque já tenha trabalhado em algum supermercado, nem porque me tenha largado aos tiros alguma vez, obviamente. Mas, verdade, verdadinha, vontade já tive - de me largar aos tiros, não de trabalhar num supermercado (faz muita falta haver gente a trabalhar em supermercados, mas, realmente, não deve ser lá muito interessante).

A questão é que a fúria sai sempre por algum lado. Uma pessoa vai tentando racionalizar, respirar fundo, acalmar as ânsias, "afinal, que importância tem?", mas ela tem sempre, mas sempre de sair. E quanto mais cedo melhor. O que constitui um dilema para os pacifistas e gentes de boa índole. "E agora o que é que eu faço com isto?!" Seguem-se algumas possibilidades:

a) Desatar aos tiros, como o caixa do Jack Nicholson (altamente desaconselhável)
b) Gritar violentamente com o primeiro inocente que nos apareça pela frente (pouco aconselhável; expõe-nos a perigos físicos e/ou há o risco de que o já-menos-inocente comece a descarregar noutro inocente provocando um efeito bola-de-neve)
c) Fazer 10 horas de yoga
d) Desabafar intensamente com pessoas que tenham o azar de se relacionar connosco (pode-se perder amigos, mas os que ficam são certificados)
e) Manter um semblante perfeitamente calmo até atingir uma depressão (chato)
f) Dizer mal do governo durante 15 horas (assim como assim, já é costume)
g) Ir a um jogo do Benfica e insultar todos os membros das duas equipas (idem)
h) Pegar no carro e dar 180 km p/ hora no asfalto (pode ser que se deixe de sentir fúria e qualquer outra coisa permanentemente)
i) Malhar no ginásio até nos cair um membro inferior/superior (é incómodo porque fazem todos falta)
j) Dançar até cair (o mesmo problema dos bracinhos e perninhas)
l) Encerrar-se na casa de banho e chorar desalmadamente (não esquecer de lavar a cara)
m) Ir para os copos (questão do sofrimento intenso do dia seguinte - tende a piorar com a idade)

Claro que nada dá tanto gozo nem provavelmente é tão eficaz como agarrar a causa original da fúria pelos ombros e agitá-la enérgica e repetidamente, mas, infelizmente, nem sempre isso é possível.

9 comentários:

Rui disse...

n) escrever um post sobre isso.

E sim, não há nada como um valente safanão.

marsalho disse...

Um dia de Raiva, com o Michael Douglas. Se nunca viste, tens mesmo que ver.

maria disse...

i e m...sem margem para dúvidas, mas não podias acrescentar a alínea para as compras?:)

Consigliere disse...

Andar à chapada!:)

Mipo disse...

o) fazer compras (no meu caso, altamente desaconselhável; por uma qualquer razão obscura, quando faço compras de fúria esqueço-me de que não sou milionária)

maria disse...

Isso é toda a gente, mas sabe bem e vai-sem etadfe da fúria...:):)

cinderela disse...

Comprar um bilhete de avião para um sítio que gostasses :) LOL

Isa disse...

dizer uns palavrões, mandar uns berros valentes e passa. o resto n mas a fúria passa. é um alívio, digo-te...

bonifaceo disse...

Eu fico furioso a ver bola, por exemplo, e aí se estou num local que posso, farto-me de mandar vir e digo algumas (às vezes muitas) asneiras.
Mas generalizando, acho que a mim a fúria acaba por passar com o tempo.
Beijo.